Pesquisadores fazem estudo que poderá contribuir para crescimento do uso de energia solar

13 de dezembro de 2024 - 11:37

Com o apoio da Funcap através do edital 03/2020 – Pós-doutorado, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC) analisaram os desafios para o uso da energia fotovoltaica em condomínios residenciais e comerciais no Brasil através da experiência da capital federal. Um dos resultados do trabalho foi a publicação do artigo “Photovoltaic systems for multi-unit buildings: Agents’ rationalities for supporting distributed generation diffusion in Brazil” no periódico Energy Policy, que está entre o 2% mais relevantes da área de energia no mundo.

De acordo com os cientistas, a energia distribuída fotovoltaica brasileira atingiu 28,99 GW em junho de 2024 e quase 2,63 milhões de conexões, com 3,72 milhões de unidades recebendo créditos que são usados para descontos na conta das empresas fornecedoras de eletricidade. No entanto, a expansão do uso ocorre de forma desproporcional entre as diferentes modalidades.

Tomando como exemplo Brasília, a cidade analisada no estudo, com apenas 0,4 MW, a fotovoltaica está muito atrás de modalidades como geração junto à carga (353,06 MW), autoconsumo remoto (22,73 MW) e geração compartilhada (3,68 MW). A expectativa dos autores é que o trabalho contribua para a formulação de políticas públicas de incentivo ao uso de energia solar nos condomínios, aumentando a participação da geração fotovoltaica.

 

Conclusões do estudo

O trabalho envolveu pesquisas com profissionais diretamente envolvidos na promoção de sistemas de telhados fotovoltaicos no Brasil. O grupo de especialistas incluiu gerentes de edifícios multifamiliares, integradores, reguladores, distribuidores, geradores, comerciantes, associações e autoridades governamentais envolvidas em ciência e tecnologia.

A partir dos resultados obtidos, os pesquisadores chegaram a alguns fatores que, de acordo com o estudo, devem ser considerados para incrementar o uso de energia fotovoltaica em condomínios e podem ajudar nas formulações de políticas públicas ligadas a essa área:

– Obstáculos e motivadores encontrados em grandes cidades ao redor do mundo (como falta de informação, tempo de retorno, altas taxas de ocupação e rotatividade de inquilinos, dentre outros) também estão presentes em Brasília e no Brasil;

– O instalador, profissional responsável por materiais, projeto, instalações e manutenções no sistema fotovoltaico é um fator decisivo. De acordo com os especialistas consultados no estudo, uma instalação rápida e direta e uma manutenção econômica dependem mais da experiência e da qualidade do serviço dos instaladores do que de fatores como arquitetura do edifício, estrutura do telhado ou qualidade do equipamento;

– Os especialistas consultados no estudo destacaram a necessidade de contratar síndicos profissionais de edifícios, que possam dedicar todo o seu tempo exclusivamente à administração, e de ter representantes qualificados para participar das reuniões do condomínio;

– O baixo tempo de retorno do investimento no sistema fotovoltaico pode não ser um argumento convincente para a adoção, uma vez que ele pode depender de fatores imprevisíveis como a longevidade das pessoas e a duração da permanência dos inquilinos;

– É importante desenvolver campanhas focadas em argumentos financeiros, em vez de apenas em motivações ambientais ou climáticas, para apoiar a difusão de sistemas fotovoltaicos de telhado;

– Os participantes da pesquisa consideraram o mercado de carbono como uma motivação para a adoção de telhados fotovoltaicos;

– A dedução da compra de micro sistemas fotovoltaicos do imposto de renda pessoal também seria uma forte motivação. O estudo conclui que pesquisas para um melhor entendimento entre reembolsos de imposto de renda pessoal e política para adoção de energia renovável devem ser desenvolvidas;

– Em relação ao impacto do acesso de edifícios multifamiliares ao mercado livre (onde os consumidores podem escolher o fornecedor e negociar as condições comerciais do serviço), os autores do estudo sugerem pesquisas e discussões adicionais sobre questões regulatórias e econômico-políticas relacionadas ao tema;

– A estrutura de distribuição de energia no Brasil estabelece um monopólio onde os clientes estão pagando preços altos por serviços abaixo da média, e este é o maior incentivo para a adoção de energia solar;

– A prática de comprar energia diretamente de donos de plantas fotovoltaicas (como, por exemplo, empresas que hoje estão oferecendo esse serviço como alternativa mais em conta) está rapidamente ganhando participação de mercado por ser mais simples do que construir um sistema fotovoltaico em um condomínio. Para os pesquisadores do estudo, isso vem de um processo de decisão precipitado e superficial, baseado apenas em custos iniciais e que ignora o fato da geração compartilhada ter menor taxa de retorno;

– Gestores de edifícios, acadêmicos de energia, integradores e administradores públicos devem ser considerados elementos centrais na formulação de políticas públicas orientadas para energia renovável e precisam ter oportunidade de compartilhar suas visões e experiências.

De acordo com os pesquisadores, o estudo ganha ainda mais relevância no cenário global, que existe atualmente, de urgência por medidas que possam contribuir para o aumento do uso de fontes renováveis de energia, por causa do aquecimento do planeta e as suas consequências nos efeitos climáticos, que estão cada vez mais intensos.

Ele está alinhado, inclusive, com três dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de ações definidas pela ONU como necessárias para acabar com a pobreza e proteger o meio ambiente: os ODS 7 (Energia limpa e acessível), 11 (Cidades e comunidades sustentáveis) e 13 (Ação contra a mudança global do clima).