Especial Mulher & Ciência – Cientistas de destaque: Ada Lovelace, Marie Curie, Nise da Silveira e Johanna Döbereiner

11 de março de 2016 - 17:03

Fazer listas é cometer injustiças. Algumas vezes por desconhecimento, outras por esquecimento. A lista a seguir tem como objetivo destacar quatro pesquisadoras de destaque na história da ciência Mundial e brasileira e, para fazer essa relação, a equipe da Funcap consultou diversas listas elaboradas por diferentes publicações.

Em todas as listas consultadas, produzidas por ocasião do Dia Internacional da Mulher, Marie Curie é unanimidade. As outras citadas na lista a seguir não são necessariamente vencedoras de algum Prêmio Nobel. Viveram antes dele, foram indicadas a ele ou ganharam respeito pela comunidade acadêmica independente da premiação, como as brasileiras Nise da Silveira e Johanna Döbereiner.

Entre 1901 e 2015, o Prêmio Nobel e o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel foram concedidos para 874 indivíduos e 26 organizações. No mesmo período, as mulheres foram premiadas 49 vezes. No total, 48 mulheres receberam a premiação, pois Marie Curie o recebeu em 1903 e 1911.

Além de destacar o trabalho realizado pelas pesquisadoras, a lista foi produzida também com a intenção de servir como inspiração para jovens pesquisadoras. A expectativa é de que a lista seja a porta de entrada para o mundo da Ciência, com os leitores e as leitoras buscando outras informações sobre as cientistas listadas.

Vale a pena pesquisar sobre Hildegard de Bingen (1098-1179) e os livros escritos sobre botânica e medicina; sobre a autora do primeiro livro de álgebra escrito por uma mulher, Maria Gaetana Agnesi (1718-1799); sobre a bioquímica Gertrude Bell Elion (1918-1999), premiada com o Nobel de Medicina em 1988 por suas descobertas de princípios fundamentais para o tratamento com drogas. 

Além delas, destaque também para a primatologista Jane Goodall, para a química alemã Ida Noddack (1896 – 1978) e para a citogeneticista Mathilde Krim, entre tantas outras. Indicamos, ainda, a leitura sobre a filósofa Hipátia de Alexandria, considera a primeira matemática (e filósofa e astrônoma) da história, ou sobre Maria, a Judia, alquimista a quem se atribui a criação do processo de banho-maria.

Entre as pesquisadoras brasileiras, podemos destacar as contribuições da “cientista da Amazônia”, a geógrafa Bertha Becker (1930-2013); da socióloga Heleieth Saffioti (1934-2010), referência sobre as questões de gênero no Brasil; da antropóloga Heloísa Alberto Torres (1985-1977), reconhecida internacionalmente pelos estudos nas áreas da antropologia, arqueologia e etnografia; da maior catalogadora de plantas do país, a botânica Graziela Maciel Barroso (1912-2003).

Destaque ainda para a bióloga Marta Vannuci, considerada uma das maiores especialistas em ecossistemas de manguezais do mundo; e para a economista Maria da Conceição Tavares, formuladora de alternativas para a superação do modelo econômico do regime militar. E poderíamos falar também da médica patologista Sonia Gumes Andrade; da física Maria Marlúcia Freitas Santiago; da historiadora Emília Viotti da Costa; da aqueóloga Maria Beltrão, da química Aïda Espínola e de tantas outras pesquisadoras que contribuíram para o crescimento da ciência.

No começo do texto, falamos em destacar o trabalho de quatro pesquisadoras. No entanto, conseguimos falar de um número bem maior, mesmo sem tanta profundidade. A seguir, falaremos um pouco mais de quatro cientistas, mas recomendamos também leituras sobre as outras citadas anteriormente.

Ada Lovelace (1815 -1852)

ada_lovelaceAda Augusta Byron King, a Condessa de Lovelace, é considerada a primeira programadora do mundo por ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina. Filha do poeta Lord Byron, a condessa de Lovelace era matemática e estudou matemática e lógica por influência da mãe, Anne Isabella Noel Byron.

Os talentos matemáticos a levaram a ter uma relação de trabalho e de amizade com o matemático britânico Charles Babbage, também conhecido como “o pai dos computadores”, conhecendo a Máquina Analítica do britânico.

Entre 1842 e 1843, Ada traduziu um artigo do engenheiro italiano Luigi Menabrea sobre a máquina, acrescentando um conjunto de notas. Estas notas contêm o que muitos consideram ser o primeiro programa de computador, ou seja, um algoritmo concebido para ser realizada por uma máquina. Após o trabalho com Babbage, Ada trabalhou em outros projetos, mas entrou para a história mesmo como a primeira programadora do mundo. Ada morreu de câncer, no dia 27 de Novembro de 1852, aos 36 anos.

Marie Curie (1867 – 1934)

mari_irene_curieSim, ela recebeu dois prêmios Nobel em áreas científicas diferentes. Sim, a filha dela também recebeu um Nobel. Em 1903, Marie Curie, Pierre Curie e o físico Henri Becquerel dividiram o Nobel de Física “em reconhecimento aos extraordinários resultados obtidos por suas investigações conjuntas sobre os fenômenos da radiação, descoberta por Henri Becquerel”. A cientista foi a primeira mulher a receber um Nobel.

Já em 1911, Marie recebeu o Nobel de Química “em reconhecimento pelos seus serviços para o avanço da química, com o descobrimento dos elementos rádio e polônio, o isolamento do rádio e o estudo da natureza dos compostos deste elemento”. Irène Joliot-Curie, filha mais velha do casal, recebeu o Nobel de Química de 1935 “em reconhecimento da sua síntese de novos elementos radioativos”.

Marie Curie enfrentou certas dificuldades para prosseguir com os estudos após terminar o ensino secundário. Ela e uma das irmãs, Bronislawa, envolveram-se com uma instituição de ensino clandestina. Depois, fizeram um acordo para uma apoiar os estudos da outra: enquanto uma trabalha, a outra estudava, e vice-versa. Até conseguir continuar com os estudos em física, matemática e química na Universidade de Paris. Não foi fácil, mas o mundo ganhou uma das mais importantes cientistas da história.

Nise da Silveira (1905-1999)

nise_da_silveiraA médica psiquiatra alagoana foi pioneira na pesquisa sobre o tratamento de doenças mentais por meio da arte-terapia, sendo reconhecida internacionalmente. Fundou, em 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente, reunindo a produção artística dos internos do Hospital Pedro II, onde trabalhava. Em 1956, fundou a Casa das Palmeiras, um centro de reabilitação pioneiro para pacientes egressos de hospitais psiquiátricos.

Nise da Silveira é responsável por introduzir e divulgar no Brasil a psicologia junguiana. A psiquiatra trocou correspondência com o próprio Carl Gustav Jung sobre a produção dos internos. A exposição “A Arte e a Esquizofrenia”, com obras dos pacientes, participou do “II Congresso Internacional de Psiquiatria”, em 1957, em Zurique.

A alagoana foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica (“Societé Internationale de Psychopathologie de l’Expression”), sediada em Paris. 

Nise da Silveira não foi apenas “a discípula de Jung”, a médica psiquiatra deixou um grande legado aos estudos do comportamento humano.

“Eu queria saber o que vai por dentro do indivíduo, queria entrar na cuca do doente tanto quanto pudesse, conhecer a psique, este pedaço da natureza que se chama psique. Fazer uma exploração, como quem faz uma exploração da floresta amazônica” (Nise da Silveira)

Johanna Döbereiner (1924-2000)

johana_dobereinerAgrônoma de origem tcheca e naturalizada brasileira, Johanna Döbereiner foi decisiva na história da soja tropical brasileira. De acordo com o Portal Brasil, graças às pesquisas dela, o Brasil economizou bilhões de reais em adubos e inseticidas nos últimos 30 anos. 

Os estudos com a bactéria Rhizobium revolucionaram e aprimoraram a soja tropical brasileira. Johanna Döbereiner garantiu um assento na Academia de Ciência do Vaticano e foi uma das indicadas para o Prêmio Nobel de Química em 1997.

Nascida em 1924, formou-se em Engenharia Agronômica pela Universidade de Munique, na Alemanha. Chegou ao Brasil após a II Guerra Mundial e foi contratada, em 1951, pelo Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola, hoje Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia da Embrapa. A partir de então, realizou pesquisas pioneiras na fixação biológica de nitrogênio. 

Em 1989, Johanna foi a ganhadora do Prêmio de Ciências da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco). A agrônoma foi uma das mais respeitadas cientistas brasileiras.