Pesquisadores da Urca encontram fóssil de camarão de mais de 100 milhões de anos

18 de janeiro de 2013 - 20:06

O material inédito foi apresentado nesta quinta-feira (17), no município do Crato, na sede do Geopark Araripe

Pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca) apresentaram na quinta-feira (17) a descoberta do único fóssil de camarão no mundo encontrado em uma concreção carbonática, com características tridimensionais, na Bacia Sedimentar do Araripe. O material de mais de 100 milhões de anos, do período Cretáceo, foi apresentado à imprensa na sede do Geopark Araripe.

O novo crustáceo fossilizado recebeu o nome de Kellnerius jamacaruensis, em homenagem ao paleontólogo Alexandre Kellner, e ao local onde foi localizado o fóssil, no distrito de Jamacaru, na cidade de Missão Velha, no sul do Ceará. O material foi apresentado pelo coordenador da maior escavação controlada do Nordeste, iniciada em 2011, o paleontólogo Álamo Feitosa, e a aluna do curso de Biologia da Urca, Caroline Mayara da Silva.

Com base na caracterização da espécie, foi possível descrever um novo gênero da família Carídea. Medindo 1,8 cm de comprimento, o material foi encontrado depois de 11 dias de escavações, a 9,5 metros, em maio do ano passado. O fóssil custou aos pesquisadores um trabalho detalhado e bastante cuidadoso na preparação da rocha, para revelar a forma do camarão.

Foram utilizados equipamentos como uma lupa, para aumentar em até mais de 60 vezes o tamanho do crustáceo, e instrumentos delicados, como uma agulha para a aplicação de insulina. A caracterização foi realizada pelos pesquisadores Willian Santana (SP), Allysson Pinheiro (Urca), Caroline Mayara da Silva (Urca) e Álamo Feitosa (Urca) no Laboratório de Paleontologia da Urca.

A apresentação contou com a presença de parte da equipe de 20 pesquisadores, além do paleontólogo Alexander Kellner, a reitora da universidade, professora Otonite Cortez, e o vice-reitor, Patrício Melo. Kellner destacou a importância desse trabalho, desenvolvido por meio de estudiosos da própria região. Ele tem sido um dos incentivadores desse processo de formação de um núcleo de pesquisadores do Cariri.

Também ressaltou que, antes, o material encontrado na Bacia Sedimentar do Araripe era levado por estudiosos de outras localidades e anunciado em seus centros de pesquisa. “Isso revela a autonomia da pesquisa na região e um grande passo que está sendo dado nesse sentido”, disse o cientista homenageado.

Continuação dos trabalhos

O trabalho das escavações continua este ano na cidade de Campos Sales, depois do período das chuvas. Três grandes escavações deverão acontecer na localidade. Essa descoberta recente, ocorreu na segunda grande escavação, na parte leste da Bacia Sedimentar do Araripe. A primeira foi na parte oeste, no município de Araripe.

Alex Kellner afirma que seria muito difícil conceber uma descoberta desse nível sem que houvesse uma escavação controlada. Nos primeiros meses de escavações, foram encontrados dois fósseis também raros: uma asa de um pterossauro, do tamanho de uma asa delta, e uma tartaruga, que ainda está sendo descrita.

A pesquisa, que vem sendo realizada no Cariri, por meio da Urca e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Nacional (CNPq) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), com apoio do Geopark Araripe, é responsável pela extração de mais de 6 mil peças. Uma das evidências, com a nova peça encontrada, é que na região deveria ter pelo menos lagos com certo nível de salinidade.

“Digo sempre que, se a história da vida na Terra fosse um livro, a Bacia do Araripe seria um capítulo inteiro. Há documentação sobre a história da vida na região desde 400 milhões até 1 milhão de anos”, disse o professor Álamo, em notícia de destaque no jornal O Globo. O fóssil de camarão também fará parte de uma publicação na revista científica ‘Zootaxa’, da Nova Zelândia, cujos editores destacaram o caráter inédito do material encontrado.

Apoio da Funcap

O professor Dr. Antônio Álamo Feitosa Saraiva é coordenador do projeto “Análise quanti-qualitativa de fósseis nos resíduos de descate das minas de gipsita do município de Santana do Cariri”, aprovado no edital nº 05/2012 – Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa e Estímulo à Interiorização (BPI) da Funcap.

Com o objetivo de promover a atração e fixação de pesquisadores doutores produtivos para atuação em Instituições de Ensino Superior e Pesquisa localizadas no interior do Ceará, o edital foi lançado em julho de 2012 e recebeu 183 propostas, oriundas de dez entidades, sendo aprovadas 63 propostas.

Na equipe executora do projeto estão também o pesquisador Alexander Wilhelm Armin Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional/UFRJ), como colaborador externo, e o pesquisador Augusto César Pessoa Santiago, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também como colaborador externo.

“Nós últimos oito ou dez, a maior parte dos fósseis encontrados na Bacia Sedimentar do Araripe eram apresentados em outros estados e até mesmo no exterior. Agora, com o apoio que nós estamos recebendo, nós temos condições de escavar, comprar equipamentos e aparelhar laboratórios, fazendo com que nossas pesquisas tenham o mesmo nível de outras apresentadas por instituições que até recebem mais recursos”, destacou o professor Álamo.

Além da participação de bolsistas da Funcap no projeto, o paleontólogo comemorou o apoio recebido do Governo do Estado. “Com o auxílio recebido, nós também podemos contar com a ajuda de pesquisadores externos. O apoio do Governo do Estado é muito importante, porque o material encontrado permanece no Cariri, de onde é proveniente”.

Com informações da Assessoria de Comunicação da Urca