Ex-presidente da SBPC defende criação de fundações de apoio à arte e cultura nos moldes das FAPs

25 de março de 2011 - 18:35

Da Agência Funcap
Por Sílvio Mauro

Assim como existe um modelo de incentivo à atividade científica, através das Fundações de Apoio à Pesquisa (FAPs), o Brasil precisa criar um mecanismo similar para a educação básica, com instituições de fomento às artes e à cultura. Essa é a opinião do presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Enio Candotti. Apesar de ligado, nas suas atividades acadêmicas, à Fisica, área estreitamente ligada à tecnologia, ele acredita que é hora do país começar a valorizar seus outros saberes. “Educação não se faz só com ciência e tecnologia. Conhecimentos como artes, cultura e culinária também precisam contribuir para a formação das pessoas”, afirmou.

O professor foi um dos convidados do Projeto Ponto de Vista, da Assembléia Legislativa, que realizou ontem um debate cujo tema foi “Ciência e Inclusão Social”. Como mote principal do encontro, os dados que mostram o gritante contraste existente no país, o 13º em produção científica no mundo e 88º em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Ele lembrou que, no campo da pesquisa, os investimentos feitos nos últimos 10 anos trouxeram resultados significativos. O total de artigos científicos publicados pelo país, por exemplo, aumentou mais de 16 vezes, saltando de 2 mil para 32 mil. No mesmo período, a produção mundial cresceu pouco mais que dobrou. Apesar disso, ressaltou Enio, o Brasil tem uma taxa de homicídios de jovens 50 vezes maior que a da Europa. A saída para mudar isso, segundo ele, passa necessariamente pela educação básica.

As fundações de apoio às artes, técnicas e culturas, segundo o pesquisador, poderiam funcionar como as FAPs, incentivando saberes que, na sua avaliação, têm relação com vocações nacionais. “O Brasil tem um talento especial, que é a capacidade de lidar com artes, em especial a música e a dança. Mas falta o ensino de música e dança nas escolas”, opinou. Ele acrescentou, ainda, que nas instituições onde existe esse ensino de arte, ela fica atrás, na lista de importância, de conceitos tradicionais. “A música e a dança deveriam estar à frente da Matemática”, disse.

Para o professor Tarcísio Pequeno, presidente da Funcap e outro dos convidados do debate na Assembléia Legislativa, a revolução no ensino básico precisa passar, necessariamente, pela valorização do professor. Ele lembrou mais uma discrepância do Brasil: o país é destaque mundial na área de estudos avançados em Matemática, mas amarga um dos piores ensinos de Matemática básica do planeta.

Isso acontece, segundo ele, porque a profissão de professor, atualmente, é desvalorizada e não seduz os jovens mais capacitados que buscam uma carreira de sucesso. “O ataque frontal do problema é destinar os recursos necessários para a educação, prestigiando o professor”, concluiu.