Ceará é uma das referências nacionais em videocirurgia cardíaca

18 de fevereiro de 2011 - 18:20

Da Agência Funcap
Por Sílvio Mauro

O Brasil realiza, anualmente, uma média de 350 cirurgias cardíacas por milhão de habitante. Para se ter ideia do que esse número significa, a Europa faz 900 procedimentos. E os Estados Unidos, aproximadamente 2.000. Essa diferença não é, necessariamente, por falta de demanda local, mas por causa da dificuldade do sistema de saúde do país de atender todos os que precisam dessa operação de alta complexidade. No caso do Ceará, o quadro é ainda mais grave: a média anual por milhão é de 150 cirurgias.

Diante desse quadro, o cirurgião Josué de Castro Neto decidiu trazer um avanço para o estado: desde outubro de 2008, ele realiza em pacientes locais a Videocirurgia Cardíaca, procedimento feito a partir de uma pequena incisão de cinco centímetros no lado direito do tórax (o método tradicional faz um corte de 25 cm). Fruto de anos de esforço, que incluem estudos na Alemanha e a formação de um corpo de 12 profissionais, a técnica tem ajudado a melhorar o tratamento e a recuperação de muitas pessoas no estado. Até hoje, o médico já aplicou o método em mais de 100 pacientes.

Na videocirurgia, os instrumentos são colocados no espaço entre as costelas. A câmera é introduzida por um pequeno orifício, perto da axila direita. Segundo Josué, os ganhos são muitos: há diminuição do trauma cirúrgico, porque o corte é muito menor, a dor decorrente do processo pós-operatório é menor e há menos chances de infecções e sangramentos. Além disso, o tempo de internação é reduzido.

Com a introdução da técnica, o médico conseguiu tornar o Ceará uma referência nacional. Além da equipe cearense (um grupo multidisciplinar que envolve cardiologistas, enfermeiros, cirurgiões, fisioterapeuta, anestesista e perfusionista – este último o profissional responsável por coração e pulmão durante o procedimento), só existem no país grupos em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná.

Josué ressalta a importância do ganho de tempo que a videocirurgia representa para os pacientes. Ele explica que, pela agilidade do procedimento, mais pessoas poderiam ser operadas, diminuindo o tempo de espera. “Quanto maior for a espera, mais a doença evolui”, lembra. Outra vantagem é a redução de custos, já que o tempo de internação é menor que o necessário para a cirurgia tradicional.

Meta é popularizar o procedimento

Como a videocirurgia cardíaca, hoje, no Ceará, é realizada apenas em instalações privadas, Josué agora se empenha na implantação do projeto Vicor (Videocirurgia do Coração), que pretende criar um centro de tratamento de doenças do sistema cardiovascular, torácicas e de videocirurgia cardíaca no Hospital Geral deFortaleza (HGF, instituição pública mantida pelo governo do estado). O objetivo, segundo ele, é fazer com que o local, desenvolva ações de tratamento, formação e transmissão de conhecimento na área de tratamento cirúrgico das doenças cardiovasculares e torácicas.

O projeto Vicor prevê a realização de dois procedimentos cirúrgicos cardiovasculares por semana. “Nossa ideia é tornar o HGF uma referência regional e nacional em videocirurgia cardíaca”, diz Josué. Ele destaca que o hospital reúne todas as condições para isso. “O HGF, hoje, dispõe de salas cirúrgicas com equipamentos de última geração”. O cirurgião também acrescenta que a estrutura atual da instituição permite, por exemplo, transmitir a cirurgia através de videoconferência.