Equipe cearense irá produzir vídeo sobre Marie Curie

14 de janeiro de 2011 - 18:02

Da Agência Funcap,
por Silvio Mauro

O projeto “Videodocumentário Marie Curie: Uma Mulher Extraordinária”, elaborado pelo professor André Herzog, do Curso de Química da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em parceria com a o professor Edvaldo Siqueira, coordenador da equipe de audiovisual da Funcap e titular da Universidade de Fortaleza (Unifor), foi um dos 14 selecionados, na faixa de financiamento entre 50 e 100 mil reais, do edital Divulgação Científica para o Ano Internacional da Química, lançado pelo CNPq no segundo semestre do ano passado. O trabalho concorreu com propostas de todo o Brasil e foi um dos dois contemplados no Ceará (o outro projeto foi o de uma equipe da Universidade Federal do Ceará, campus do Cariri).

Com o financiamento, de cerca de 100 mil reais, será produzido um videodocumentário com duração entre 48 e 50 minutos – tempo aproximado dos programas exibidos na TV comercial, para facilitar a inserção do produto nesse meio comunicacional – sobre a vida da pesquisadora Marie Curie, uma das cientistas mais importantes do século XX, ganhadora de dois prêmios Nobel (um de Química e outro de Física) e responsável pela descoberta da radioatividade. A celebração do Ano Internacional de Química, em 2011, se dá pelo centenário do Nobel recebido por ela nessa área, em 1911.

De acordo com André Herzog, um dos principais motivadores para a elaboração do projeto foi a experiência adquirida com a produção de vídeos divulgação cientifica na célula de audiovisual da Funcap. Ele cita exemplos como o projeto Santo de Casa, que documentou a obra de pesquisadores cearenses, e o vídeo “O lugar onde nasce o dia”, sobre o Geopark Araripe, localizado na região do Cariri, entre outros. “O grande responsável pelo projeto é o Funcap Ciência, a iniciativa de divulgação cientifica de nossa fundação”, ressalta ele.

A expectativa é de que a produção do vídeo, com início previsto para fevereiro ou março próximos, leve um ano para ser concluída. O trabalho é ambicioso. Devem ser feitas visitas a países onde a pesquisadora viveu, como Polônia e França, e estão previstas inserções com atores, que irão reproduzir fases importantes da sua vida. “Não existem muitas imagens documentadas com a Marie Curie, por isso vamos ter de apelar para a ficção e a ajuda da computação gráfica”, explica Edvaldo Siqueira.

A meta é fazer um documentário com informações de caráter universal, que possa ser exibido não só no Brasil. André Herzog adianta que um dos primeiros objetivos é distribuir o vídeo no país e em nações do Mercosul. Por isso, já deverão ser providenciadas legendas em espanhol. Mas também há o projeto de legendar o trabalho em inglês. “Queremos levar o vídeo para exibir em festivais internacionais de ciência”, acrescenta Edvaldo, lembrando que também fazem parte do público-alvo alunos de escolas públicas e participantes de foros de Química.

Além da vida de Marie Curie, o documentário irá mostrar a produção científica brasileira, tanto nas áreas ligadas à Química quanto nas relacionadas com pesquisas em energia nuclear, com locações em importantes instituições nacionais, como as centrais nucleares de Angra dos Reis e o Hospital Israelita Albert Einstein. Estão previstos conceitos como radioatividade, estrutura atômica e da matéria, Física e energia nuclear, energias limpas e renováveis e aplicações biomédicas como radioterapia e diagnóstico por imagem.

Para garantir o rigor científico do vídeo, a equipe irá contar com a consultoria de pesquisadores da Unifor, com a ajuda de colegas das universidades Federal do Ceará, Estadual do Norte Fluminense e Federal do Rio de Janeiro. André garante que um dos principais atributos considerados na escolha dos consultores foi a sensibilidade para que o conteúdo tenha, ao mesmo tempo, precisão científica e informações de caráter pedagógico, acessíveis para estudantes e leigos interessados pelas áreas abordadas.

André Herzog afirma que o trabalho pode ser um importante passo para consolidar a atividade de divulgação científica no Ceará, iniciada pioneiramente por instituições como a Funcap e a Seara da Ciência, essa última vinculada à Universidade Federal do Ceará. Existe a ideia, por exemplo, de criar um núcleo de animação científica na Uece para a produção de vídeos curtos com informações sobre ciências.

Todas as etapas da produção do vídeo serão feitas no núcleo de audiovisual da Funcap. Para isso, será usada uma combinação da infraestrutura já existente com novos equipamentos adquiridos com o financiamento obtido no CNPq. Ambos os coordenadores do projeto ressaltam a importância da fundação para o projeto. “A estrutura de audiovisual da Funcap vai ser essencial”, conclui Edvaldo.

Saiba mais sobre Marie Curie
Marie Sklodowska Curie foi uma cientista cujo trabalho incentivou a pesquisa das aplicações do elemento rádio, o que resultou em avanços significativos na Física Nuclear e em aplicações biomédicas, principalmente em terapias contra o câncer. Suas descobertas lhe valeram a concessão de dois prêmios Nobel em ciências; em Física no ano de 1903, e Química em 1911.

O trabalho de Marie Curie foi fundamental para o entendimento não apenas do fenômeno da radioatividade mas para a posterior compreensão da estrutura do núcleo atômico, da matéria e de formas até então desconhecidas de energia. Foi ela quem criou a expressão “radioatividade” e quem primeiro usou a radiação para fins terapêuticos ainda durante a Primeira Guerra Mundial. Por seu trabalho, tornou-se a primeira mulher a ser nomeada professora titular da Universidade de Paris.

Nos últimos anos de sua vida, Marie Curie, se dedicou à criação de instituições de pesquisa e de assistência de saúde, por meio da aplicação de diferentes formas de radiação, e à realização de inúmeras viagens internacionais com o objetivo de promover o intercâmbio científico, a divulgação dos usos pacíficos da radiação e o levantamento de fundos para suas pesquisas.

Ironicamente, a pesquisadora faleceu de leucemia (câncer na medula óssea) em decorrência de anos de trabalho em contato com elementos radioativos, principalmente por causa da exposição prolongada ao rádio durante o longo período que dedicou ao seu isolamento e identificação. Em reconhecimento por sua trajetória extraordinária, ela foi a primeira mulher a ter os seus restos mortais depositados no Panthéon, a máxima expressão do reconhecimento da memória coletiva do povo da França.