Livro com trabalhos científicos sobre a caatinga fica disponível na Internet

17 de dezembro de 2010 - 17:42

Da Agência Funcap

Apesar de não ter o mesmo destaque ou despertar tanto a preocupação de entidades ambientalistas de biomas como a Mata Atlântica, a Floresta Amazônica ou o Cerrado, a Caatinga é um importante ecossistema brasileiro. A despeito da sua aparência árida, principalmente nos meses secos, tem uma biodiversidade muito rica e é importante para a economia dos estados nordestinos que a têm em seu território. Cerca de 25% da energia consumida pelos setores industrial e comercial da região Nordeste tem origem na biomassa florestal da Caatinga, gerando cerca de 900 mil empregos.

Essas são algumas informações que podem ser obtidas no livro “Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da caatinga”, lançado no mês passado, em Recife, e que agora está disponível em versão eletrônica. A publicação é uma coletânea de artigos científicos que vieram como resultados de 25 anos de pesquisa analisando a viabilidade e a importância do manejo sustentável das florestas da Caatinga para o desenvolvimento econômico e social do semi-árido.

O livro reúne trabalhos produzidos em algumas das principais instituições de ensino e pesquisa da região, incluindo a Universidade Federal do Ceará (UFC), e foi patrocinado pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Uma das principais conclusões dos responsáveis pela compilação é que ainda há muito o que estudar sobre a Caatinga e, sobretudo, sobre as formas de exploração econômica sustentável do seu ecossistema.

Os pesquisadores constataram, por exemplo, que por causa da alta capacidade de regeneração da flora por brotação de tocos e cepas e do rápido crescimento em períodos úmidos (adaptações às condições extremamente adversas do clima), o manejo apresentou viabilidade e sustentabilidade técnica além do esperado e a recuperação dos estoques ocorreu em prazos relativamente curtos. Além disso, a exploração, se feita de forma responsável, não afeta o bioma. “Os grupos biológicos estudados apresentam níveis de diversidade praticamente iguais nas áreas manejadas e nas áreas conservadas, além do que a diversidade de habitats criada em áreas manejadas permite ainda o aparecimento de novas espécies”, diz a publicação.

Mais sobre a Caatinga
Esse bioma, segundo os pesquisadores, cobria originalmente quase um milhão de hectares. Atualmente, estima-se que sua área esteja entre 700 mil e 800 mil km². Cerca de 40% da área original ainda estão cobertos de vegetação nativa, mas quase toda ela é usada para a extração de lenha, como pastagem para criação de rebanhos ou como parte do sistema de agricultura itinerante. Áreas de vegetação mais preservada são poucas, fragmentadas e geralmente localizadas nos pontos mais inacessíveis. Unidades de Conservação são relativamente raras e pequenas.

Em relação à biodiversidade, a Caatinga apresenta um índice alto para um bioma com uma restrição forte ao crescimento como a deficiência hídrica. Áreas de caatingas típicas, em geral, têm menos de 50 espécies de arbustos, árvores e ervas. Por outro lado, devido à enorme extensão, pluralidade de topografias e solos e diversidade de condições de disponibilidade de água, ela apresenta ambientes muito distintos. Isso faz com que o número de espécies vegetais total chegue a mais de cinco mil.

Como uma das principais conclusões sobre o manejo sustentável da Caatinga, os autores observam que os proprietários de terras tendem a optar pelo desmatamento e conversão das áreas para fins agropecuários por julgar que esses usos são mais rentáveis que o uso florestal. “No entanto, algumas pesquisas em andamento demonstram o contrário, indicando que a renda líquida derivada do uso florestal é maior que a dos usos agrícola e pecuário, e que outros fatores como a segurança alimentar, a disponibilidade de crédito e subsídios, os obstáculos burocráticos, entre outros, são os que levam os proprietários rurais a não adotar o manejo”.

O manejo sustentável dos recursos florestais da Caatinga, defendem os autores, é “uma possibilidade real, tecnicamente comprovada”. Sua adoção depende da formulação de políticas públicas que priorizem a realidade ambiental e socioeconômica do bioma Caatinga, estimulem a participação do setor privado no processo, através da desburocratização e de incentivos.

Serviço
Para quem se interessar, o livro pode ser acessado aqui