Ceará ganhará sistema de treinamento virtual de tiro

17 de dezembro de 2010 - 17:43

Da Agência Funcap
Por Kellyanne Pinheiro

Desde fevereiro de 2010, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará estão desenvolvendo um sistema de treinamento virtual de tiro com o objetivo principal de capacitar melhor os policiais e, com isso, diminuir o índice de erros nas abordagens. O projeto veio de uma solicitação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará e está sendo viabilizado financeiramente através da Funcap.

“A realidade virtual tem se mostrado uma alternativa para o treinamento intensivo e livre de riscos de forças policiais, particularmente devido à possibilidade de ocorrer um número menor de erros”. É o que afirma o chefe do departamento de Computação (DC) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Joaquim Bento, que ao lado do professor Creto Vidal, coordena o trabalho.

De acordo com o professor Melo Júnior, do Instituto UFC Virtual, coordenador de desenvolvimento do projeto, no período de 24 meses o sistema poderá ser montado de diversas maneiras, empregando desde uma única tela com sistema de som simples até uma cave (ambiente onde são projetados gráficos em três dimensões e permite que as pessoas possam explorar e interagir com objetos virtuais) imersiva, com visão de 360º e sistema de som surround (sistema que, diferentemente do tradicional estéreo, com dois canais, usa várias saídas de áudio para tornar a sua distribuição pelo ambiente mais próxima da real).

“Já existem no mercado alguns sistemas comerciais para esse tipo de capacitação, mas o custo é alto e eles ainda não são customizados para a realidade das polícias locais”, explica Júnior. Os valores de mercado dos sistemas atuais variam de R$ 800 mil a R$ 1 milhão. A estimativa de preço para o sistema que está sendo desenvolvido para o Ceará, segundo o pesquisador, é de aproximadamente R$ 250 mil.

Atualmente, o projeto conta com um protótipo de tela única, já executando modelos em vídeo e em tecnologia 3D. Melo Júnior explica que a equipe tem a responsabilidade de desenvolver o software e adaptar o hardware, buscando sempre uma solução de alta precisão e de baixo custo. “Para isso, empregamos desde computadores com placas de vídeo sofisticadas até câmeras de infravermelho encontradas em joysticks do vídeo game Wii da Nintendo, por exemplo”.

Baseado em princípios de Computação Gráfica, Simulação Computacional, Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos, o sistema está sendo desenvolvido em código aberto, na linguagem C++, em Linux. Júnior destaca que, em relação ao estande real, as principais vantagens que o virtual pode oferecer redução de custo com a eliminação de gastos com munição, melhor controle de simulação, com a possibilidade de repetir as simulações de abordagens e emprego de ocorrências específicas (assalto, sequestro, abordagem e etc), emprego de modelos de campos de prova com alvos fixos e móveis e o emprego de personagens virtuais randômicos (criados de acordo com a necessidade de cada situação).

Melo Júnior afirma, ainda, que além da preparação de tiro propriamente dita, uma das bases do sistema é o estabelecimento de normas de conduta, o que deve contribuir tanto para a maior precisão de disparos, nas situações reais, quanto na melhora do comportamento das forças policiais em relação à resolução de conflitos e tratamento com a comunidade como um todo.

O sistema deverá ser usado na futura Academia Estadual de Segurança Publica do Ceará, instituição que será responsável pela capacitação integrada da Policia Militar, da Policia Civil e do Corpo de Bombeiros do Estado.

Funcionamento do sistema

O sistema de treinamento virtual de tiros está sendo desenvolvido em dois modelos. O primeiro é o sistema multi-telas, em forma de sala de realidade virtual imersiva, para simulação de estandes de tiros e ambientes para treinamento (bares, ruas, estabelecimentos comerciais e bancários, etc), formado por até seis telas de projeção, caixas de som amplificadas e computadores de controle. Serão empregadas armas reais adaptadas, com sistema substituto de emissão laser e funcionamento do mecanismo de disparo por gás comprimido.

Teoricamente, esse sistema poderá funcionar ininterruptamente para treinamento simultâneo de até quatro indivíduos, sempre acompanhados por um instrutor especializado. Devido à especificidade de cada tipo de treinamento e respectiva duração de simulação, ainda não é possível definir a quantidade total de pessoas treinadas por dia. Mas em sistemas equivalentes, o numero médio é de cerca de 30 a 40 treinandos por turno (manhã, tarde ou noite) – lembrando que o sistema pode, se necessário, ser replicado para atender maiores demandas.

O segundo modelo é um sistema de tela única, portátil, controlada por notebook ou mesmo netbook, que poderá ser facilmente replicado e levado para treinamento de forças policiais no interior do Estado. Devido à sua portabilidade e emprego de hardware de baixo custo, este sistema apresentará simulações de estandes de tiro aberto e fechados em praticamente qualquer local.