Cientistas temem piora do aquecimento global

21 de maio de 2009 - 17:45

Do The Guardian

Oficialmente, os esforços do Reino Unido em relação às mudanças climáticas estão em sintonia com a meta de limitar o aumento da temperatura mundial a um patamar de até 2° C em relação à média do período pré-industrial – limite considerado perigoso pela União Européia. Mas, em 2006, David King, cientista chefe do governo britânico, afirmou que um aumento de até 3° C seria aceitável. Recentemente, Bob Watson, cientista chefe do departamento do meio ambiente, disse que o mundo precisava se preparar para a possibilidade de uma variação de 4° C. Dentro de alguns meses, a Universidade de Oxford irá realizar uma conferência para debater sobre a vida humana em um mundo com esse aumento de até 4° C.

Alarmados com a combinação das conseqüências da emissão de carbono gerada pela queima de carvão de países em desenvolvimento como a China e o impasse político, muitos cientistas ligados a estudos do clima têm ficado cada vez mais apreensivos nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que artigos técnicos de jornais acadêmicos têm registrado previsões cada vez mais negativas, muitos assumiram uma postura agressiva em público. O provável fracasso no alcance da meta de 2° C e a certeza das terríveis conseqüências disso tem sido o tema mais delicado das ciências relacionadas com o clima.

Apesar disso, ele tem sido colocado em debate. Uma enquete realizada pelo The Guardian entre participantes de uma conferência sobre o clima realizada em Copenhaguen, no mês passado, expôs o abismo entre a retórica política e o pensamento cientifico. Entre os mais de 250 profissionais abordados, mais da metade afirmou que a meta de 2° C poderia ser alcançada. Mas apenas 18 deles acreditam que isso irá acontecer. Até o fim do século, a maioria acha que a temperatura média irá aumentar até 4° C.

Vale ressaltar que esse quadro não saiu da imaginação deles. O relatório oficial do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, realizado em 2007, resumiu isso de forma objetiva. Se as emissões de carbono continuarem aumentando nas taxas atuais, o aumento de 4° C deve chegar até o ano 2100. A pesquisa realizada pelo The Guardian apenas expõe a crença de que esse alerta não tem surtido efeito. Segundo um dos entrevistados, “entre os políticos e o público em geral , falta uma compreensão do que deveria estar sendo feito com urgência e das conseqüências das ações insuficientes”. Outro acrescenta: “as ações governamentais realizadas atualmente estão jogando o problema nas mãos de um eleitorado que não compreende o quão sério é o problema das mudanças climáticas”.

Os participantes da pesquisa responderam sob a garantia de que teriam o anonimato. Muitos cientistas são relutantes em admitir publicamente de que a meta de 2° C não é muito realista, e alguns alegam que o tema aquecimento é delicado. Um deles afirmou: “dizer às pessoas que um percentual x da população não acredita que ela pode ser atingida seria uma previsão arrogante. Grandes feitos podem ser realizados se todos acreditam na sua concretização. Churchill não ficou dizendo que muita gente acreditava que a Inglaterra e os aliados iam perder a guerra. Ele convocou todos a lutar”.

Muitos cientistas afirmaram que o encontro do G20, realizado em Londres e onde as mudanças climáticas foram pouco consideradas, os convenceu de que as medidas necessárias não seriam tomadas. Simon Levis, pesquisador do clima da Universidade de Leeds, afirma: “o encontro mostra que os líderes políticos não encaram as mudanças climáticas como um tema urgente. Eles se ocuparam com a reconfiguração da economia global e optaram pela reafirmação do modelo tradicional, ao invés de mudar para uma economia com baixa emissão de carbono como os cientistas têm sugerido. O evento foi mais um debate sobre o fim do mundo que a discussão em torno de um novo”.

Bob Doppelt, diretor do Climate Leadership Initiative, da Universidade do Oregon, diz que “um dos principais problemas é que esse tema tem sido particionado, entre científico e ambiental. Esse é o maior erro. A mudança climática é uma conseqüência de desigualdades sociais, práticas econômicas e políticas. É um assunto social e econômico. O foco precisa ser deslocado das ciências biofísicas para as sociais, se nós queremos ter alguma esperança de resolver esse problema”.

Outros entrevistados afirmaram que seria necessário haver uma série de eventos climáticos extremos como o furacão Katrina e a onda de calor que assolou a Europa em 2003 para forçar uma ação política mais contundente. Segundo um deles, “um acontecimento de grande impacto, como o atentado de 11 de setembro”, que pudesse ser relacionado ao efeito estufa poderia fazer os políticos agirem.