Santo de Casa – Professor Abreu Matos e o projeto Farmácia Viva

5 de fevereiro de 2009 - 19:08

Qui, 05 de Fevereiro de 2009 10:02

Por Giselle Soares

Da Agência Funcap

Uma vida dedicada à pesquisa com plantas medicinais. Bisneto, neto e filho de farmacêuticos, o professor Abreu Matos seguiu a tradição familiar e criou o projeto Farmácias Vivas, implantado em vários estados brasileiros.

Abreu Matos (in memorian) foi um dos homenageados pelo projeto Santo de Casa, que está registrando o trabalho de nomes importantes para a ciência do Ceará. Além dele, a iniciativa, realizada pelo CNPq e pela Seara da Ciência/UFC, inclui os nomes do sociólogo Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, do sanitarista Rodolfo Teófilo (através de uma entrevista com o jornalista Lira Neto, autor de uma biografia sobre o cientista), o criador do biodiesel Expedito Parente e a física Marlúcia Freitas. Todos os vídeos farão parte do acervo do CNPq e do museu Seara da Ciência.

A combinação de conhecimentos de química, botânica e farmacologia gerou o projeto “Farmácias Vivas”, que surgiu quando o professor Matos percebeu que uma porcentagem muito pequena da população de países subdesenvolvidos tinha dinheiro para comprar medicamentos. “Há, talvez, entre 10 ou 20 milhões de nordestinos que não têm dinheiro para comprar medicamento. Para eles, a única opção é utilizar remédios da natureza ou dos vendedores de ervas”, disse o professor durante a gravação da entrevista, no ano passado.

A idéia do projeto “Farmácia Viva” é substituir essas ervas que são utilizadas (atualmente, são cerca de 600) por aquelas que foram selecionadas através do trabalho de pesquisadores e da literatura publicada na internet. Dessas ervas utilizadas, aproximadamente 100 são “validadas”.

Segundo o professor Matos, não era feita validação oficial das ervas, através de um ensaio clínico. Em vez disso, ele combinava informações químicas e farmacológicas. Dessa maneira, foram escolhidas as plantas do projeto “Farmácias Vivas”, com o objetivo de tentar substituir as que o povo usava sem nenhuma informação por aquelas cujas propriedades são comprovadas. “A vantagem é que o povo passa a usar essas plantas com mais segurança e a indústria farmacêutica pode fazer as comprovações e melhorar a qualidade nacional dos fitoterápicos, beneficiando nosso povo”, disse o professor.

Em Iguatu, três farmacêuticos avaliaram plantas da Farmácia Viva que poderiam ser fabricadas no laboratório lá instalado. Foram comparados os custos desses produtos com os custos dos produtos industriais distribuídos pela Secretaria de Saúde. Segundo o professor Matos, em alguns casos, havia uma redução de custo de 20% a 30% com os produtos da Farmácia Viva. Em outros, a diferença era maior, com medicamentos industriais extremamente caros que poderiam ser fabricados na Farmácia Viva por um preço bem mais baixo. “Alguns prefeitos e algumas secretarias de saúde aceitaram e desenvolveram o projeto muito bem, como no caso de Viçosa do Ceará, de Pentecostes e de Maracanaú. A gente tem Farmácias Vivas espalhadas por todo o Brasil. Uma das melhores é a da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Está lá uma Farmácia Viva com as plantas que nós selecionamos aqui e que foram transferidas pra lá”.

Nos últimos três anos, o Horto de Plantas Medicinais recebeu auxílio de 25 mil dólares anuais de uma empresa americana. A verba era destinada ao pagamento de funcionários e à instalação de unidades de Farmácia Viva.

Existem diferentes tipos de Farmácias Vivas. Algumas trabalham apenas com manipulação de chá. Outras, além da manipulação, fazem também distribuição de mudas e de preparados farmacotécnicos, como pomadas, xaropes e cápsulas. Atualmente, há aproximadamente 40 Farmácias Vivas instaladas no interior do Ceará. Dessas, apenas oito são completas, como a de Viçosa, a de Maracanaú, a de Quixeramobim e a de Itapipoca.

Com o falecimento do professor Matos em dezembro do ano passado, resta saber que rumos o projeto “Farmácia Viva” vai tomar. Este ano, o Conselho Regional de Farmácia do Ceará e o Sindicato dos Farmacêuticos no Estado do Ceará lançaram o Prêmio de Jornalismo Abreu Matos, que objetiva estimular os jornalistas a investigar e divulgar como as ações da assistência farmacêutica, nas esferas pública e privada, contribuindo para melhoria da saúde coletiva e da qualidade de vida da população cearense.

Abreu Matos era professor emérito da Universidade Federal do Ceará desde 1983 e referência nacional e internacional no estudo de plantas medicinais. Além de criador do projeto Farmácias Vivas, foi também coordenador do Laboratório de Produtos Naturais da UFC e catedrático de Farmacognosia e Química Orgânica.