Santo de Casa – o biodiesel de Expedito Parente

29 de janeiro de 2009 - 18:58

Qui, 29 de Janeiro de 2009 09:57

Por Sílvio Mauro
Da Agência Funcap

Economia, aquecimento global, poluição, crise energética. Para o professor Expedito Parente, criador do biodiesel, essas questões estão ligadas e a crise atual tem relação direta com o dilema enfrentado pela humanidade em torno da substituição dos combustíveis fósseis por fontes alternativas de energia. Ele faz, ainda, um paralelo com a crise de 1929, que tem sido usada como referência para a atual em termos de impacto no comércio mundial. “Na época, também estava havendo migrações, que eram a substituição do vapor pela eletricidade e do carvão pelo petróleo”, lembra.

Expedito Parente foi um dos homenageados pelo projeto Santo de Casa, que está registrando o trabalho de nomes importantes para a ciência do Ceará. Além dele, a iniciativa, realizada pelo CNPq e pela Seara da Ciência/UFC, inclui os nomes do sociólogo Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, do sanitarista Rodolfo Teófilo, o farmacêutico Francisco de Abreu Matos e a física Marlúcia Freitas. Todos os vídeos farão parte do acervo do CNPq e do museu Seara da Ciência. A seguir, alguns destaques da entrevista:

Abrangência e inclusão social

Para o professor, a crise energética demanda soluções múltiplas como energia eólica, solar e de biomassa. Ele lembra, no entanto, que o combustível de óleo vegetal desenvolvido no Ceará “não é só um sucedâneo do óleo diesel” de origem mineral. “Ele carrega três missões básicas: ambiental, social e estratégica”, acrescenta Expedito Parente. No Nordeste, por exemplo, a missão mais importante do biodiesel é a social. Já em grandes cidades como São Paulo, a sua importância se dá por causa do problema a ambiental, porque o biocombustível ajudaria a reduzir a poluição. A missão estratégica, por fim, tem relação com a Amazônia e outras regiões menos habitadas do Brasil. “Nesses casos, ele permite não só a inclusão social, mas também pode promover a integração dessas regiões”, acredita o professor. Ele destaca, ainda, o fato do biodiesel ser o que ele classifica como um “combustível coletivo”, que abastece um gama muito grande de veículos. “O álcool, por exemplo, só funciona em veículos leves, com motores pequenos. Já o biodiesel serve para ônibus, caminhões, tratores, navios, máquinas agrícolas e geradores”.

Marcos regulatórios

O professor lembra que, apesar do biodiesel já estar sendo amplamente usado na Europa – em especial na Áustria e na Alemanha – no Brasil ainda há muito o que fazer. Uma das suas críticas mais enfáticas é feita aos leilões realizados pela Agência Nacional de Petróleo para a compra do combustível. Os primeiros, segundo ele, foram “nefastos e desinteligentes”. “Os prazos de entrega eram longos, e como os óleos vegetais são comodities, eles subiram de preço junto com a alta do petróleo. E ficou inviável produzir biodiesel com preços muito altos. Com isso, todo o setor entrou em crise. E esse problema persistiu nos outros. Agora é que está melhorando. Como o preço do petróleo caiu, derrubou também os preços dos óleos vegetais. Hoje, está mais vantajoso produzir o biodiesel, mas não suficientemente para recuperar os prejuízos. Então, o setor ainda está em grande dificuldade”, diz.

Petrobras

A criação de uma divisão da Petrobras para a produção de biodiesel é uma questão delicada, na opinião do professor. “Por ser uma empresa muito grande, ela pode inibir pequenos produtores, porque eles sabem que não teriam condições de competir com ela. Essa é uma situação que precisa ser muito bem regulamentada para proteger o programa como um todo. O mundo do petróleo é muito grande. Uma refinaria, por exemplo, é 200 vezes maior que uma usina de biodiesel”. Um ponto positivo, no entanto, da entrada da Petrobras nesse mercado é o potencial para exportação do biodiesel. “Com a auto-suficiência em petróleo que a Petrobras conquistou hoje, ela teria condições de exportar o mixer, biodiesel misturado com diesel mineral”, ressalta.

Governo federal

O professor Expedito Parente destaca os incentivos do governo Lula para o programa de biodiesel que, na sua avaliação, teve avanços nos últimos anos. “O presidente e a ministra Dilma (Roussef) valorizam muito o programa”, diz, destacando a sensibilidade para a questão social que envolve o biodiesel e o fato de que 13 ministérios estão envolvidos em iniciativas de estímulo à produção do combustível.

Potencial do Brasil

Lembrando dos esforços brasileiros para produzir o álcool, na década de 1970, diante de uma crise de petróleo, Expedito Parente ressalta que o programa serviu como um incentivo para o biodiesel. O biodiesel, segundo ele, é uma herança do programa do álcool, porque a primeira experiência mostrou a capacidade do país de empreender no setor agroindustrial energético. “O sucesso do álcool no Brasil foi uma ação exemplar para o biodiesel”.