Contrabando prejudica produção científica na Chapada do Araripe

8 de janeiro de 2009 - 18:30

Qui, 08 de Janeiro de 2009 09:41

Da Agência Funcap

Por Sílvio Mauro

A Chapada do Araripe, localizada em uma área de aproximadamente 10 mil km² que compreende os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, tem um dos acervos paleontológicos mais importantes do mundo. Na região há mais de um terço de todos os pterossauros (répteis alados) descritos no planeta e mais de 20 ordens diferentes de insetos fossilizados, com idade estimada entre 70 milhões e 120 milhões de anos. No entanto, a exploração científica, por parte de instituições brasileiras, desse conjunto de fósseis tem sido prejudicada por uma rede internacional de contrabando.

O caso mais recente de saída suspeita de material envolve a ponta da mandíbula de um réptil voador que, segundo o site Folha Online, estava no Museu de História Natural de Karlshue, na Alemanha, e rendeu ao pesquisador britânico Mark Witton, doutorando em paleontologia da Universidade de Portsmouth, a descrição de uma nova espécie, batizada de Lacusovagus magnificens, ou “andarilho gigante do lago”, em latim. Ainda de acordo com o veículo, a saída do fóssil do Brasil não foi registrada pelo Departamento Nacional da Produção Mineral, órgão responsável pela fiscalização e eventual liberação desse material para outros países.

O reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Plácido Cidade Nuvens, afirma que esse problema é conhecido pelos pesquisadores e já foi motivo de várias denúncias por parte da instituição de ensino. “Essa é uma prática muito comum e nós levamos o assunto constantemente para a imprensa. Mas a vigilância não é da esfera da universidade”, explica. Ele acrescenta que muitos fósseis são encontrados nas escavações das minas da região, que é uma importante produtora de pedras de calcário, e vendidos pelos próprios trabalhadores aos contrabandistas.

Atualmente, o DNPM atua no Cariri através do Centro de Pesquisas Paleontológicas da Chapada do Araripe (CPCA). Segundo o geólogo Artur Andrade, encarregado do CPCA, a fiscalização de toda a área é limitada, porque envolve uma região de cerca de 10 mil km² e é feita apenas por ele e outro técnico. Além disso, não há nenhuma viatura à disposição. “A estrutura mínima necessária seria de quatro técnicos e dois carros com tração nas quatro rodas”, acredita.

Artur informa que o DNPM não tem estimativa de quantos fósseis já foi contrabandeado da chapada, mas avalia que a perda foi significativa. “Existe material, em outros países, suficiente para 10 anos de pesquisa”, diz.