Simpósio discute 200 anos de mídia no Nordeste

20 de novembro de 2008 - 17:18

Qui, 20 de Novembro de 2008 21:00

Discutir o papel dos meios de comunicação no processo de constituição histórica da região Nordeste. Esse é o objetivo do Simpósio 200 Anos de História da Mídia no Nordeste, que reunirá pesquisadores de história da mídia de todo o Brasil entre os dias 26 e 28, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A programação do evento prevê uma série de debates envolvendo temas como imprensa, publicidade, rádio, televisão e cinema.

Realizado pelo Instituto de Referência da Imagem e do Som (IRIS), uma ONG que trabalha com comunicação e cultura, o simpósio faz parte de um projeto mais amplo, de constituição de um Núcleo de História da Mídia do Nordeste, que tem como objetivo construir um lugar destinado a produzir reflexão sobre o tema através da contribuição de uma rede de pesquisadores.

De acordo com a coordenadora do IRIS, a jornalista Elisabete Jaguaribe, a expectativa é, através do trabalho iniciado com o simpósio, fazer uma cartografia da pesquisa sobre a historia de mídia na região Nordeste, ou seja, conhecer o que já foi realizado e o que está em andamento. Na sua avaliação, ainda existe muito a ser feito em relação ao tema. Um dos motivos é que os estudos sobre o papel da mídia na formação da sociedade são relativamente recentes no Brasil.

Em 2008, comemoram-se os 200 anos da imprensa no Brasil, mas só a partir do fim do século passado, começou uma profusão maior de pesquisas considerando a sua importância. “A mídia foi vista de forma enviesada por cientistas sociais, devido a influências do marxismo. Ela era considerada, muitas vezes, um aparelho do estado e não algo que refletisse a história da população. Só a partir da década de 1970, passou a ser entendida como central na conformação da cultura contemporânea”, explica.

Além do esforço de conhecer o que está sendo estudado no Nordeste sobre a história da mídia, outro assunto a ser discutido no simpósio é a necessidade ainda existente de trabalhos mais globais sobre a mídia no Brasil. Marialva Barbosa, vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e que tem mestrado e doutorado em História pela mesma instituição, afirma que, apesar de ter havido um impulso grande nos estudos de história da mídia, os pesquisadores se fixam mais em trabalhos pontuais.

“Existe uma deficiência de estudos globais no Brasil”, diz a professora, que também espera que o simpósio ajude a colocar em discussão outros pontos ainda pouco considerados no estudo da história da mídia no país. Um deles é a preocupação com detalhes que Marialva avalia como menos relevantes. “Existe uma discussão para saber qual o primeiro jornal brasileiro. Isso não interessa muito. O importante é entender os processos do sistema de comunicação”, conclui.

SERVIÇO:

Mais informações podem ser obtidas no endereço www.midianordeste.org.br

Pouco conhecimento sobre a história da mídia nordestina

O projeto do Núcleo de História da Mídia do Nordeste é coordenado pelas jornalistas Elisabete Jaguaribe, Ana Quezado e Geísa Mattos. O Núcleo será desenvolvido a partir de um espaço virtual, o site www.midianordeste.org.br, que tornará acessíveis conteúdos relacionados com o tema e uma cartografia da produção acadêmica sobre a história da mídia regional.

Segundo Elisabete, o projeto é um esforço para ajudar os interessados em pesquisar os acervos, porque atualmente existe dificuldade para acessar o material. Ela acrescenta, ainda, que em geral, os registros da mídia são sacrificados por falta de conservação. “A guarda do acervo não está em boa situação”, diz. Isso acontece, de acordo com ela, tanto com o material impresso quanto com o radiofônico.

Para Alexandre Figueroa, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), o Nordeste tem uma homogeneidade maior que outras regiões brasileiras e o papel da mídia como elemento que ajudou a divulgar esse conceito merece ser melhor estudado. “Temos clima, problemas sociais e manifestações culturais parecidas. A mídia acaba reproduzindo essa unidade”, opina.

Ele acrescenta, ainda, que pelo fato dos programas de pós-graduação terem ficado concentrados por muito tempo na região Sudeste, há um grande desconhecimento da produção nordestina. Não só dos jornais impressos, mas também em relação a outras mídias. “Ainda conhecemos muito pouco sobre a produção cinematografica e a história da TV na região”.