Uece realiza encontro sobre uso de cobaias em laboratório e planeja construir seu próprio biotério

9 de abril de 2007 - 17:00

Seg, 09 de Abril de 2007 09:45

Por Sílvio Mauro
Da Agência Funcap

Utilização de modelos biológicos não padronizados, carência de modelos especiais, falta de biotérios com funcionamento adequado aos padrões internacionais. Esses são alguns problemas do uso de animais em laboratório no Brasil. Em todo o país, apenas o Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica na Área da Ciência em Animais de Laboratório (Cemib), da Unicamp, tem credenciamento no International Council For Laboratory Animal Sciente (Iclas), uma das entidades responsáveis pela padronização dessa atividade.

As discussões em torno da necessidade de adequar os centros de pesquisa brasileiros aos requisitos já adotados nos países de Primeiro Mundo estiveram como foco central do Encontro Uece de Ciência de Animais de Laboratório (Animal Lab), realizado na semana passada. Com o tema “Biossegurança e Bioterismo”, o foi maior que a edição do ano anterior e serviu para colocar em debate a construção do futuro biotério da Uece.

Segundo a professora Vânia Ceccatto, coordenadora do encontro, ele serviu para sensibilizar os administradores da universidade para a necessidade do biotério, uma demanda que existe desde a criação do Mestrado em Ciências Fisiológicas. Ela acrescenta que o curso trabalha com pesquisas ligadas a diabetes, hipertensão, plantas medicinais e precisa de cobaias que estejam dentro de padrões internacionais.

A criação de um laboratório desse tipo, de acordo com a diretora do Cemib – uma das instituições que deverá ajudar a Uece – Delma Pegolo Alves, envolve um grande esforço não só na construção de instalações adequadas, mas na formação de recursos humanos e na seleção das cobaias. “Um dos requisitos mais importantes é a qualidade dos animais, para que os laboratórios apresentem resultados mais confiáveis”, afirma.

Ainda sem data de instalação definida, o futuro biotério da Uece está na fase de projeto e busca de parceiros. A Funcap, informa a professora Vânia Ceccato, deverá ser uma das instituições que fornecerão apoio financeiro para a construção do novo laboratório.

Discussão sobre padronização de laboratórios e técnicas é recente no Brasil


Segundo o professor Marcelo Morales, presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica, enquanto na Inglaterra a experimentação com o uso de animais existe desde 1876, só no ano passado houve uma mobilização maior, no Brasil, para que fosse criada uma lei específica para o tema. Ele afirma que, por causa da falta de uma norma nacional, alguns vereadores estavam apresentando projetos de lei para proibir o uso de cobaias em suas cidades.

Um dos principais avanços com a nova lei, na avaliação do professor, é que ela estabelece que todas as universidades deverão ter uma comissão de ética para acompanhar a utilização do animais nos laboratórios. Além disso, um conselho nacional, formado por representantes de vários órgãos do governo e da sociedade, também terá a incumbência de acompanhar o trabalho das instituições. “Até o fim desse ano, esse conselho estará estruturado”, acredita.

Bastante polêmico e combatido por algumas entidades de proteção e organizações não governamentais, o uso de cobaias em laboratórios é enfaticamente defendido pelos cientistas. Para Marcelo, não existe alternativa possível para substituir os animais. “Sem eles, não poderíamos produzir vacinas nem fazer pesquisas com células-tronco e ficaríamos dependentes de outros países”, argumenta. Já a diretora do Cemib acrescenta que “a ciência da saúde sem os animais seria o caos” e cita o caso da Fundação Osvaldo Cruz, referência nacional no estudo de vacinas. “Imagine se ela interrompesse esse trabalho”