Novos indícios de que a fusão nuclear a frio não seria mito

9 de abril de 2002 - 16:53

Ter, 09 de Abril de 2002 09:37

Da Agência Funcap, com informações da The Economist

Em 23 de março, 20 anos após Martin Fleischmann e Stanley Pons anunciarem que tinham conseguido produzir uma fusão nuclear a frio dentro de um laboratório, mas sem comprovação, cientistas apresentaram, em um encontro da Sociedade Americana de Química, em Utah, os resultados de novas experiências que podem renovar as esperanças no meio científico.

A fusão a frio é assim chamada para ser diferenciada do tipo de fusão que acontece nas estrelas e nas bombas de hidrogênio. Essa última necessita temperaturas elevadíssimas. Se a fusão a frio funcionasse, serviria como fonte inesgotável de energia limpa. No entanto, as pesquisas desses tipos têm sido deixadas de lado pela maioria dos cientistas. Os financiamentos estão se esgotando e as pesquisas em curso são realizadas fora dos principais laboratórios.

A fusão envolve a colisão de pequenos núcleos atômicos para formar núcleos maiores e, dessa forma, liberar energia. Como os núcleos têm carga positiva, é muito difícil juntá-los. É por isso que, para a maioria dos físicos, as altas temperaturas (e também as altas pressões) são tidas como essenciais no processo. Ainda não se sabe exatamente como dois núcleos de hidrogênio poderiam fundir-se em temperaturas ambientes, mas os defensores da fusão a frio acreditam que isso é possível.

Para tentar convencer os colegas pesquisadores da veracidade da fusão a frio, Pamela Boss e sua equipe decidiram pesquisar evidências da presença de nêutrons com elevada energia, que, segundo os cientistas, devem ser produzidas quando dois núcleos se fundem. A Dra. Boss trabalha no Space and Naval Warfare Systems Centre in San Diego, na Califórnia, uma organização que desenvolve sistemas de comunicação para a Marinha americana.

O experimento que ela acredita resultar na fusão a frio utiliza uma técnica eletroquímica em que dois eletrodos são mergulhados num eletrólito feito de uma fórmula que inclui água pesada, que recebe esse nome por conter deutério, uma forma do hidrogênio que possui um nêutron em seu núcleo, bem como o próton normal, e pesa duas vezes mais do que o tipo comum. É mais fácil fundir o deutério do que o hidrogênio simples, o que torna seu uso adequado a esses tipos de experimentos.

A Dra Boss e sua equipe relataram que um dos eletrodos do experimento ficou quente, um efeito atribuído à fusão. A maioria dos pesquisadores da área, no entanto, não aceita o aquecimento como evidência suficiente da fusão (apenas porque era a base da alegação de Pons/Fleishmann). Então, para fortalecer seu argumento, a Dra Boss colocou um plástico especial, denominado CR-39, próximo ao eletrodo quente.

A pesquisadora procurou mostrar que alguns nêutrons estavam sendo liberados (sinal clássico de reações nucleares). Para captar os nêutrons, ela usou um plástico especial, que mostrava furos microscópicos em forma de triângulo. No final do experimento, os cientistas examinaram o plástico sob o microscópio e descobriram padrões de “trilhas triplas”, minúsculos aglomerados de buracos adjacentes que parecem originar-se de um único ponto central.
Segundo os pesquisadores, as trilhas foram feitas por partículas subatômicas liberadas quando os nêutrons se chocaram contra o plástico, e esses nêutrons teriam se originado de reações de fusão nuclear, provavelmente combinando ou fundindo os núcleos de deutério.

Mesmo se os resultados da Dra Boss forem evidências reais dos nêutrons de grande energia, muitos físicos vão continuar negando que a fusão a frio seja possível. Isso porque não existe explicação teórica para a fusão a frio eletroquímica dentro das leis atuais da Física.