Fortaleza sediará conferência sobre inovação

7 de janeiro de 2011 - 17:56

Da Agência Funcap
Por Sílvio Mauro

Entre os dias 20 e 22 de junho de 2011, Fortaleza será sede da XI Conferência Anpei de Inovação Tecnológica. Segundo os organizadores, o evento deve reunir cerca de 800 pessoas entre empresários, diretores, executivos e gestores de P&D de empresas nacionais e mundiais, além de dirigentes e técnicos da área de tecnologia de órgãos públicos e instituições de pesquisa.

Organizado pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) o encontro terá como tema principal “Redes de Inovação e Cadeias Produtivas”. De acordo com Mário Barra, membro da diretoria da entidade e coordenador da conferência, a escolha do Ceará como sede se deu, entre outros motivos, pelo grande montante de investimentos esperados para o estado, nos próximos anos. “Essas iniciativas abrem oportunidades e deverão resultar em benefícios econômicos e sociais para a região. Dessa forma, é muito oportuno promover a multiplicação de cadeias produtivas e criar redes de inovação, fixando esses ganhos para o progresso da região”, afirma ele. A seguir, uma entrevista sobre o evento concedida por ele ao Funcap Ciência.

É a primeira vez que a Anpei realiza seu encontro na região Nordeste?
Ao longo da existência do evento, que é anual, foram promovidas duas conferências na região Nordeste: em Recife, em 2004, e em Salvador, em 2007, ambas muito bem sucedidas.

Segundo comunicado no site da Anpei, a escolha do Ceará como sede do encontro se deve, entre outras coisas, aos investimentos de grande porte esperados para o estado, nos próximos anos. Em que essa entrada de recursos pode incentivar a inovação?
Alguns investimentos na região e no estado são substanciais e estratégicos, como, por exemplo, a montagem de uma nova infraestrutura logística interligando a malha rodoviária do Nordeste e a ampliação e o acesso do Porto do Pecém aos navios de grande calado. A viabilização do uso intensivo desse porto, cuja localização dá acesso aos mercados do hemisfério norte, já é uma inovação. A esses investimentos, se somam os da indústria de base como o da Companhia Siderúrgica do Pecém e dos projetos de uma nova indústria naval e da ampliação do polo petroquímico, entre outros.
A agregação de valor na transformação de matérias primas em produtos finais gera benefícios. O processamento do minério de ferro na siderúrgica, por exemplo, pode ser o início de uma cadeia produtiva que alimentará a produção de veículos automotores e eletrodomésticos, cujo valor agregado é até 100 vezes maior. É preciso fixar essa geração de valor e de ganhos econômicos e sociais na região, ao invés de exportar para outros países ou estados. A conferência é uma convocação a todos os empreendedores nacionais e locais, especialmente os mais inovadores, para que avaliem a dimensão dessas oportunidades que se abrem na região e invistam na formação e no adensamento de cadeias de valor competitivas e modernas.
Essas iniciativas abrem oportunidades promissoras para um novo leque de empresas atreladas a elas, as quais deverão resultar em benefícios econômicos e sociais para a região. Dessa forma, é muito oportuno promover a multiplicação de cadeias produtivas e criar redes de inovação, fixando esses ganhos para o progresso da região. Vale lembrar que o tema da próxima conferência é, justamente, “Redes de Inovação e Cadeias Produtivas”.

Quando entrevistamos pesquisadores ou inventores do estado, um argumento recorrente é que a falta de apoio (mesmo com o reconhecimento de que a situação tem melhorado, nos últimos anos) e a burocracia dificultam e muitas vezes desestimulam o trabalho. Como a Anpei vê essa questão? Esses assuntos são temas de discussão em seus encontros anuais?
Uma das primeiras atividades da Anpei, após sua fundação em 1984, portanto há 26 anos, foi propor ao então recém criado Ministério da Ciência e Tecnologia uma lei de incentivos fiscais à inovação. Desde então, a primeira lei de incentivos levou dez anos para ser promulgada, em 1995. E somente agora, em 2005, foram aprovadas leis como a do MP do Bem. Como formulado na pergunta, a situação melhorou desde então, mas temos todo um caminho a ser desbravado para que haja efetivamente um ambiente favorável à inovação, por meio de incentivos fiscais e financeiros e da desburocratização do reconhecimento dos méritos dos inovadores e da concessão desses estímulos, como vem ocorrendo nos países desenvolvidos.
Esses assuntos são pauta permanente dos nossos encontros, a exemplo da última conferência, realizada em Curitiba, que catalisou as propostas para a efetiva promulgação da lei estadual de incentivo à inovação do Estado do Paraná. No caso do Ceará, constatamos que nenhuma empresa cearense foi beneficiada pelas leis de incentivos à inovação. É necessário, portanto, reconhecer que algo precisa ser feito, pois a nossa realidade – baixa escolaridade, juros altos, encargos e tributos elevados, real apreciado, infraestrutura deficitária e ultrapassada e excesso de burocracia – compõe um custo sistêmico que compromete a competitividade e a inovação. Essa situação está registrada nos anais da nossa última conferência e em um documento entregue pela ANPEI aos Ministérios de Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Ele atesta alguns dos esforços que a Anpei, desde muito tempo, vem realizando para mudar uma situação que, por dificultar e desestimular as inovações, é perversa para a economia, para a sociedade e para o país.

Existe uma boa integração entre regiões, quando o assunto é cooperação entre associados da Anpei com o objetivo de desenvolver projetos que levem a patentes futuras?
O tema “cooperação” foi o título da conferência de 2005. Na ocasião, tive o prazer de apresentar pessoalmente o caso de cooperação entre as associadas Braskem, instalada na região Sul, e as empresas da região Norte Multibrás e Whirlpool. O caso era sobre a formulação de uma nova carga que permitiu substituir a plataforma metálica usada em condicionadores pela plástica, resultando em redução de preços, aumento das vendas locais e em exportação.

A região Nordeste ainda tem problemas básicos de infraestrutura, com parte da população vivendo próxima da linha da miséria, carência de recursos e deficiência no ensino básico e médio. Com esse cenário, como fica o investimento em inovação? Ele é possível de que forma? E o que a Anpei espera como resultados da conferência realizada em um estado nordestino?
A Anpei entende que é preciso romper o círculo vicioso da falta de infraestrutura, que gera baixos índices de desempenho econômico e social e resulta em miséria. Em nossa última conferência, o tema central foi justamente como encontrar formas de romper paradigmas e transformar esse círculo vicioso em um virtuoso, por meio da geração de valor local e fixação dos benefícios a eles decorrentes, com progresso econômico e a inclusão social auto-sustentada. É aí que reside o benefício e a importância do empreendimento inovador local e por isso precisa ser multiplicado. A descoberta da melhor forma de se investir em inovações é uma tarefa que cabe a toda a coletividade.
Como em todas as outras conferências, esperamos mobilizar desde os micros, médios e até os “mega” empresários da região a adotarem a inovação como estratégia maior para aumentar a competitividade, enfrentar a concorrência global e consolidar seus negócios. A mobilização é de mão dupla, isto é, ao mesmo tempo em que promovemos o empreendedorismo local, estamos convidando os empresários e os gestores de inovação de todas as regiões e empresas brasileiras a comporem novas cadeias produtivas competitivas e entrosadas em redes de inovação, de forma a resgatar a agregação de valor e a multiplicar os investimentos, provocando o adensamento e a singularidade de um ponto de inflexão na curva do progresso econômico e social do Ceará e de toda a região Nordeste..

Considerando o total de empresas associadas à Anpei, como está a posição do Ceará em termos de quantidade de empresas inovadoras e números de patentes?
A distribuição regional das entidades e companhias associadas à Anpei segue muito próxima a distribuição geográfica das empresas com 500 ou mais colaboradores e que realizam atividades de inovação. Segundo a última pesquisa do IBGE-PINTEC, o percentual dessas empresas situadas no Nordeste é de 6 %, o mesmo de associadas à Anpei. Não temos contabilizando o número de patentes das associadas, nem a distribuição regional porque não houve, até o momento, interesse nesse dado nem é uma demanda dos associados.