Greenpeace vem a Fortaleza defender a preservação das áreas marinhas

11 de fevereiro de 2009 - 19:29

Qua, 11 de Fevereiro de 2009 10:48

Por Sílvio Mauro

Da Agência Funcap

Menos de 1% do litoral brasileiro, que tem mais de oito mil km de extensão, foi demarcado em áreas protegidas. Além disso, algumas reservas não saíram sequer saíram do papel. Essas foram algumas das informações divulgadas pelo Greenpeace em Fortaleza. Um dos três navios da instituição, o Artic Sunrise, aportou na capital cearense esta semana, como parte de um roteiro de divulgação e debates sobre questões ambientais que incluiu cidades das regiões Norte e Nordeste.

Os ativistas distribuíram para os visitantes o documentário “O mar é nosso?”, feito em parceria com o National Geographic Channel. Segundo a bióloga Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace, o principal objetivo da expedição foi divulgar questões globais envolvendo os oceanos. No entanto, também foram trazidos assuntos locais. Em Fortaleza, o grupo promoveu um debate sobre a relação entre a carcinicultura (criação de camarões) e a degradação dos manguezais.

A posição do Greenpeace em relação ao tema é bastante radical – e polêmica. De acordo com Leandra Gonçalves, não é possível estabelecer uma produção de camarões em cativeiro sem a degradação do meio ambiente. A única alternativa, para a instituição, seria a desativação de todos os criadouros do litoral nordestino. “Nós defendemos a pesca tradicional, feita em alto mar”, afirma.

Em um dos documentos fornecidos pelo Greenpeace, a entidade também lembra que o litoral brasileiro, por sua grande extensão, é tido pelo senso comum como um recurso de exploração infinita. No entanto, segundo a instituição, aproximadamente 80% das espécies com valor econômico estão ameaçadas por causa da falta de controle na atividade. “A lagosta, por exemplo, é um dos casos mais críticos”, lembra Leandra.

Para ilustrar o problema da carcinicultura no litoral do Nordeste, o Greenpeace convidou representantes do Grupo de Trabalho criado em 2005 pela Câmara dos Deputados para fazer um estudo sobre os impactos da atividade nos manguezais nordestinos (GT- Carcinicultura). Segundo o professor Jeovah Meireles, um dos autores do relatório que foi a síntese da pesquisa, é possível desenvolver a atividade de forma sustentável, mas é preciso arcar com os custos sociais e ambientais da atividade, que não são poucos.

Tratamento da água usada, não ocupação de áreas de marés para a instalação dos criadouros e cuidados para evitar a salinização do lençol freático são algumas das medidas importantes citadas por ele. Além disso, como a carcinicultura é muito voltada para a exportação, as variações do dólar influenciam a produção. “Em 2005, quando fizemos o estudo, 25% das fazendas de camarão haviam sido abandonadas porque a cotação tinha caído mercado internacional”, ressalta o professor.

Ele cita, ainda duas razões para justificar o investimento em uma carcinicultura sustentável. A primeira delas é ambiental: os manguezais, segundo Jeovah Meireles, sustentam 75% da biodiversidade marinha e precisam ser preservados. A outra é econômica. “Um hectare de carcinicultura, hoje, rende em média 8 mil dólares por ano. Essa mesma área pode gerar até 50 mil dólares, se for explorada de forma adequada”.